E a segurança em Brumadinho! Como vai?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O outro lado do protesto na Serra da Moeda

Na Internet, depois que a matéria do evento foi postada nos jornais on line e blogs, houve a abertura do debate com parabenizações pela iniciativa e críticas. Um dos comentários que chamou a atenção para a reflexão foi o de Reinaldo Brandão. Ele comentou no site Moutain Bike BH o seguinte: “... eu acho engraçado é que ninguém abraça a serra da moeda em protesto contra os condomínios que ocupam uma área bem maior que as minerações...”
Com este comentário Reinaldo Brandão abriu espaço para os ativistas atentarem para outros problemas intrínsecos encadeados na manifestação, com outras questões interligadas à preservação e conservação ambiental. Do alto da montanha o manifestante pode notar que a encosta e subida da serra é ocupada por condomínios horizontais em uma grande extensão territorial que impedem o livre acesso da população da região às nascentes e cachoeiras.
De acordo com a Agência Nacional das Águas, os cursos d’água são propriedade da União. É na região da Encosta da Serra da Moeda que estão localizadas as mais belas e cristalinas cachoeiras do município. A maioria da população de Brumadinho não as conhece, justamente porque o acesso é restrito em função da formação dos condomínios nessas áreas.
Entre os manifestantes que abraçaram a Serra, muitos deles são representantes das comunidades históricas e quilombolas que ainda não foram convidados a conhecer as cachoeiras particulares.
Assim como abrilhantaram o Abraço a Serra, os representantes da história e cultura de Brumadinho poderiam também, um dia abraçar as cachoeiras preservadas dentro dos condomínios, através de um evento organizado e sistêmico em série, já que existem muitos condomínios e muitas cachoeiras particulares para se conhecer.
A sugestão é que se faça até mesmo um Projeto para esta finalidade, para garantir o livre acesso da população às águas e nascentes do município.
Atualmente os moradores de Brumadinho só têm acesso às reservas naturais dos extensos condomínios horizontais se conseguirem convite de algum amigo morador.
Uma contradição que também merece destaque e reflexão é a incoerência de grande parte dos participantes chegar ao local do protesto guiando automóveis de luxo de médio porte, que tem como matéria prima principal o minério de ferro.
No Japão e nos países de primeiro mundo, os carros estão se tornando mais compactos para reduzir o consumo de combustível, causar menos impacto ao meio ambiente e reduzir a matéria prima na produção. O Brasil está na contramão. Notoriamente, as pessoas que representaram os condomínios no evento possuem um poder aquisitivo com possibilidade de possuir mais de um veículo por família. Ou seja, “não à exploração do minério mas sim ao consumismo desenfreado”.
Como expressou a professora Ana Lúcia Gonçalves em seu manifesto na Serra da Moeda em 2010, se tudo acabar, ninguém sobreviverá de dinheiro. Incoerentemente, grande parte dos manifestantes na Serra são pessoas que consomem os produtos originados pelo minério: automóveis e grandes construções nos melhores espaços de Brumadinho.
A exploração do minério de ferro, desde que existe em Brumadinho, é a principal atividade econômica e principal causadora dos danos ambientais. Isto porque na primeira metade do século XX, quando iniciou a exploração do minério na cidade, não havia legislação e a população não pensava nos impactos negativos causados ao ambiente.
Esta exploração sem planejamento causou diminuição de água no povoado do Tejuco. Moradores antigos do povoado recordam que antes havia uma mina com abundância de água, localizada na praça do povoado. Contraditoriamente, hoje, nos períodos de seca, o Tejuco precisa ser abastecido com caminhões pipa. O jornal Circuito Notícias recebe inúmeras reclamações e, também, já editou matérias a este respeito. Mas, passa anos, e o problema do abastecimento na localidade não é resolvido. Outro povoado que assistiu a diminuição assustadora de seu manancial de água foi o de Córrego do Feijão.
Hoje não se explora minério como antigamente. Há regras e legislações para uma mineradora cumprir. O fato é que enquanto o Ciclo do Minério estiver vivo no município, as mineradoras vão explorar e terão que cumprir regras ambientais, sociais, econômicas, culturais e históricas.
A Ferrous Resources do Brasil, que está reativando a Mina da Serrinha, alvo do protesto, esclareceu para a imprensa que a Mina foi toda estruturada para uma exploração, seguindo normas ambientais. A Mina foi encontrada com expressivo passivo ambiental. Quando chovia, sua represa vazava, escoando rejeitos que estavam estocados e paralisados há muitos anos, atrapalhando a vida dos moradores da Encosta da Serra.
A Ferrous informou que está concluindo um novo desenho para a Mina que conciliará aspectos econômicos, ambientais e sociais. A empresa reitera ainda que, desde 2007, quando adquiriu a área, vem realizando trabalhos de recuperação ambiental. "Até então, o empreendimento estava abandonado e era considerado um grande passivo ambiental na região da Serra da Moeda. Em 2008, ao adquirir a mina, a Ferrous assinou com o Ministério Público de Minas Gerais um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a regularização ambiental do empreendimento".
A iniciativa dos manifestantes que abraçaram a Serra é louvável. Os moradores de Brumadinho e região precisam conservar suas águas e também, democratizá-las.

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